O CEMITÉRIO DOS GONÇALVES


Lili,
Mundo cruel! Que fatalidade! Que horror!
Com o maior pesar dou-te esta cruel noticia, sabes,
sabes morreu o meu bom e inesquecido futuro cunhadinho José Ignácio Filho.
Foi repentinamente.
A tua infeliz amiga Maria Julia está inconsolável.
Vê que infelicidade?!!!!
Adeus. Lacrimoza fica a tua amiga,

Daria

Onde moram os mortos

Texto: Emiliana Carvalho
Fotos: Marcos Cesário

Em busca de todo e qualquer vestígio sobre Lili Gonçalves, partimos, por indicação de Dionéia Gonçalves para a Fazenda Piabas, que fica a 22 km da cidade de Jaguarari (Bahia), onde encontram-se esquecidos entre as montanhas da Serra dos Morgados os túmulos que guardam os restos mortais dos antepassados da família Gonçalves.
Impulsionados pela curiosidade que Dona Rita Gonçalves, mãe de Dionéia, nos instigou ao proferir estas palavras: “Na Fazenda Piabas não mora ninguém vivo, moram apenas os mortos”, seguimos o imaginado itinerário.
Na garupa de duas motos, fomos confrontados com uma situação extrema: ou contemplávamos a bela paisagem, ou mantíamos os olhos atentos aos obstáculos da estrada íngreme e cheia de pedras que surgia diante de nós. Além das pedras, o terreno era arenoso e isso exigiu de nós e dos nossos guias um considerável esforço para mantermo-nos equilibrados sobre as rodas.
Seis cancelas depois chegamos ao destino final: um pequeno cemitério de muros brancos, perdido entre as árvores da grota. De longe avistava-se duas cruzes solitárias que miravam a imensidão das montanhas que ficam logo em frente. O portão de ferro, já descascado, apenas aparentava guardar um par de túmulos altos, morada definitiva dos patriarcas da família Gonçalves e de seus filhos, dentre eles: Emiliana Gonçalves Torres e Silva, a senhorita Lili.
As tradicionais inscrições nos jazigos davam um tom saudosista àquela visita. As letras grafadas no mármore indicavam o sentimento de familiares que viram partirem os seus: “Aqui jazem os restos mortaes do engenheiro civil Dr. Antonio Gabriel Gonçalves da Silva. Nascido no dia 15 de outubro de 1871 e fallecido no dia 6 de julho de 1919. Homem de princípios e caracter dotado de sentimentos puros e elevados e de uma extrema e carinhosa dedicação à família, aos parentes e amigos. Homenagem de seus irmãos sobreviventes, Emiliana, Manoel e Gabriel”.
Lili Gonçalves também assinou, como os seus irmãos, a homenagem à sua mãe Milu. Ela também foi uma sobrevivente, viu seus contemporâneos irem embora. Hoje, nós que contemplamos aquele pequeno e solitário cemitério da Fazenda Piabas, vivemos um tempo que, por enquanto sobrevive ao dela, por enquanto...



Entrada do cemitério da família Gonçalves





Os dois únicos túmulos do cemitério





Lápide do túmulo do irmão de Milu, mãe de Lili





Lápide do túmulo da matriarca da família, Emiliana Gonçalves (Milu) 





Cruzes orignais dos túmulos da família Gonçalves